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Breaking Bad e a Maléfica Dublagem

Um assunto que se tornou diário nos comentários das publicações aqui no site e em nossas redes sociais. A dublagem em séries e filmes sempre foi um assunto polêmico e que agora chega ao Breaking Bad Brasil devido a exibição de Breaking Bad na TV Record. Até o momento não tínhamos nos pronunciado a respeito, mas esse momento chegou. Após a exibição da primeira temporada da série em TV aberta, vamos nos posicionar a respeito da dublagem, no caso, claro, a de Breaking Bad.

Há muita confusão sobre o assunto e muitos não conseguem ter discernimento para entendê-lo, gerando debates infundados e até mesmo agressivos nas redes sociais. Peço a todos que entrem no assunto, com respeito, para que a publicação sirva para deixar claro as diferenças, os motivos e a importância do áudio da série.

Falando diretamente da dublagem, exibida diariamente na TV Record, saibam que o áudio não foi encomendado pela emissora, pois é a mesma dublagem disponibilizada no Netflix, portanto não xinguem a emissora por causa disso, pelo menos. O áudio dublado não é disponibilizado nos boxes de DVD´s da série e é testemunhado apenas no Netflix e na Record.

Não venho aqui para julgar o trabalho realizado pelos dubladores brasileiros, pois muitos são elogiados pelos trabalhos realizados. Você deve ter ouvido: "A dublagem de tal personagem é boa". Pode até ser, se você comparar a dublagem em questão com outra dublagem, mas a dublagem nunca vai ser boa em relação ao áudio original. Impossível. E isso não é questão de opinião, é fato.

Por mais que tentem chegar perto, nunca conseguirão. Muitos dizem que a dublagem de Walter é muito boa e que o dublador Armando Tiraboschi, que dá voz ao personagem, fez um ótimo trabalho. Sim, não julgo o trabalho do profissional, mas ele e nem ninguém conseguirá transmitir o sentimento que Bryan Cranston passa através do personagem Walter/Heisenberg. Por exemplo:

Quando Bryan Cranston diz "Say My name", a entonação intimidadora é explicita. O personagem, Declan, interpretado pelo ator Louis Ferreira, se vê acuado, amedrontado. Quando o dublador diz "Diga meu nome", tradução literal do termo, ele não consegue passar isso, não chega nem perto. O pior, nesse caso, é a dublagem do personagem Declan, completamente desproporcional.

  

Notou que o som do vento do deserto de Albuquerque praticamente é excluído da cena? Se não notou, assista novamente.

E o pior que a dublagem adapta, bisonhamente, uma das falas mais icônicas da série.

"Você quer mesmo viver em um mundo sem suco de polpa de fruta?" - Pra quê isso?

   

A voz dos personagens são cuidadosamente planejadas no processo de criação, é grande parte dos personagens e não pode ser substituída a altura.

E mesmo se, por mágica, nos deparamos com uma dublagem "perfeita", como dizem, pois o profissional se preparou muito e estudou o personagem, enfim, quem garante que todos os personagens da série ou filme terão esse cuidado? Não terão, impossível. Mesmo se "gostar" de uma dublagem de algum personagem, detestará alguma outra.

E deixo claro que os motivos não são porque amamos as produções americanas, de forma alguma. A dublagem prejudica qualquer obra, independente do idioma, como podem ver na versão dublada em inglês do filme "Tropa de Elite"

   

Por isso e muito mais, Breaking Bad deve ser vista com áudio original. "Ah, mas eu prefiro assistir dublada". Não tem problema algum, cada um assiste da maneira que quiser, mas assistir Breaking Bad na versão dublada, o telespectador se privará - sem ao menos perceber, caso nunca assista com o áudio original - de grande qualidade da série.

"Ah, mas é porque assistiram a série com áudio original e não vão gostar da versão dublada. Mas vão se acostumar, com o tempo". Não é isso. Claro que as pessoas que assistiram a série com áudio original vão poder diferenciar as versões, mas o problema é que as pessoas que assistiram-a dublada, não poderão degustar do máximo que a série propicia. E muitos não vão se importar, essa é a lamentável verdade.

Eu mesmo assisti muitas séries e filmes dublados na TV, na adolescência, e acostumei com a dublagem, mas principalmente por não ter opção. Quando comecei a acompanhar produções com áudio original, tive dificuldades, todos têm, mas você se acostuma com as legendas, e melhor, você acaba dando muito valor ao áudio original e não consegue mais suportar a dublagem, pois a diferença de qualidade é gritante.

O brasileiro acostumado a assistir novelas e filmes dublados não são exigentes, e isso é cultural. Muitos assistem os programas sem a atenção que alguns programas exigem, como Breaking Bad. Tenho certeza que você já se deparou com algum parente ou amigo assistindo novelas e conversando durante a sua exibição, pois sabem, mesmo sem prestar atenção, no que vai dar, porque culturalmente a maioria não são exigentes, devido as produções praticamente não exigirem continuidade, ao contrário de Breaking Bad e de muitas outras produções exigem.


E eles ainda dizem: "Estou conversando aqui e sei tudo que está acontecendo". Claro que sabe.

"Ah, então você quer que a dublagem seja extinta!" De forma alguma. Sabemos que a maioria dos brasileiros, infelizmente, preferem assistir os programas dublados, mas seria importante que as emissoras, mesmo as de TV aberta, disponibilizem opções ao telespectador. No caso da Record, Breaking Bad é exibida dublada, mas com opção SAP, podendo o telespectador que tenha uma TV com essa função (muitos não tem) mudar para o idioma original, mas sem legendas. Não dá pra assistir com "closed caption", a legenda não é sincronizada e tem falhas. As emissoras deveriam adotar, impreterivelmente, o modo de exibir programas da forma que algumas emissoras de TV a cabo exibem, com opções de áudio e opções de legendas.

Um fato que mais incomoda nas dublagens, pelo menos a mim, é o fato de adaptarem as traduções por contra própria, baseadas em "não sei o quê". Em Breaking Bad vimos que o "Yeah Bitch" foi traduzido como "Colé, cara?", "É isso aí, cara" e por aí vai. Porque não usar a palavra "Vadia"? Em um programa de classificação alta, maiores de 16 anos, e que está sendo exibido quase a meia noite.

 
Segundo o dublador de Jesse, Felipe Zilse, vários fatores tiveram de ser considerados na hora de "traduzir" esse bordão. Em matéria publicada hoje no UOL - matéria essa que também participei - o dublador diz que o termo foi adaptado por ele e pelo diretor de dublagem, para levar em conta que ele abre bastante a boca pra falar, para parecer que ele está falando o português.

Com todo respeito ao profissional, isso é o cúmulo do absurdo. Claro que a dublagem precisa ser sincronizada, mas não precisa "parecer com o português". Todos, em sã consciência, sabem que a voz que sai da boca de Aaron Paul está sendo dublada em português, à quem querem enganar? Ainda mais que privam o telespectador da frase, por uma decisão unilateral sem nenhum embasamento.

Veja como ficou escrota a adaptação abaixo, sem falar na dublagem que não chegou nem perto da emoção passada por Aaron Paul.

   

E o dublador ainda revela que chegaram a receber um texto com a tradução de suas falas, mas resolveram adaptar, pois muitas das gírias que estavam lá foram substituídas por adaptações para deixar as falas num tom mais "jovem". Esse é um erro grave, assumido pelo dublador, pois se julgam no direito de avaliar o roteiro, adaptando as falas porque simplesmente acham que vai ficar melhor. Acham. Sem nenhum embasamento, reitero.

Por fim, deixo claro que todos podem assistir o que quiserem e da forma que quiserem. O ideal é termos opções e temos de sobra. Podemos assistir as séries com áudio original, facilmente, mas isso é um privilégio que temos a relativamente pouco tempo, pois anos atrás, sem a internet, a coisa era muito pior. Independente, o fato é que o telespectador que assistir Breaking Bad com áudio dublado, nunca poderá usufruir da qualidade máxima que a série disponibiliza, e isso, mais uma vez, não é "questão de gosto", é fato.

Deixo aberto o post de comentários para que possamos dialogar sobre o assunto, e peço para que respeitem o autor e a opinião dos leitores, dialogando de forma educada, sem insultos a qualquer um que seja.